Informações
Nome: Beastars
Episódios: 12
Lançamento: 2019
Estúdio: Orange
Gênero: Slice of Life, Psicológico, Drama, Shounen
Duração: 22 min.
Sinopse: Beastars se passa em um mundo onde animais antropomórficos, herbívoros e carnívoros convivem uns com os outros. O protagonista da história é Legoshi, um lobo que faz parte do clube de drama do colégio Cherryton. Apesar da sua aparência ameaçadora, ele é dono de um coração gentil, e com o passar do tempo acabou se acostumando com o fato de outros animais lhe temerem. Certo dia, ele começa a se envolver mais com seus colegas de classe mais próximos e vê sua vida dentro do colégio mudar aos poucos.
Não é raro ver obras que peguem animais e lhes deem características humanas, temos filmes como Madagascar e Ratatouille que brincam com a ideia destas criaturas se envolverem com o nosso mundo, Stuart Little com o ratinho que fala e é tratado como um humano e por fim Zootopia que recria toda uma sociedade humana mas com animais vivendo os nossos papéis.
Em Beastars temos algo semelhante a Zootopia, uma sociedade de animais carnívoros e herbívoros que tentam conviver em harmonia, a grande diferença no entanto é a maneira como a obra lida com as emoções dos seus personagens e o poder que os seus instintos naturais têm sobre eles.
O foco da história é Legoshi, um lobo cinzento introvertido, que se apaixona por Haru, uma coelha anã, e é nesta narrativa que vemos o toque que vai alienar a maioria, mas que será extremamente viciante para aqueles que forem até ao final.
O relacionamento destes dois como esperado é extremamente controverso pelos mais diversos motivos, como o famoso triângulo amoroso, a diferença de personalidade dos dois e a incompatibilidade das suas espécies. Como é conhecimento geral, o lobo é por natureza um animal predador, aproveitando-se de animais indefesos como os coelhos para se alimentar, e apesar do nosso lobinho ser um defensor dos herbívoros e esforçar-se para não comer carne, a verdade é que ele não deixa de ser um carnívoro.
A obra brinca bastante com está ideia, não só com o nosso casal principal, mas com o resto do mundo também, afinal, devemos proibir carnívoros de comer carne quando é um nutriente essencial para eles? E como é que é a consciência destas criaturas que comem carne e depois no dia a dia vão conviver com os seus amigos herbívoros? Será que todos aguentam essa ideia?
Tudo isto são tópicos super desvalorizados quando vemos obras infantis que inserem diversos animais a conviver, mas que em Beastars acaba por ter o seu spotlight e devo dizer que Paru Itagaki está de parabéns pela maneira incrível como desenvolveu o seu universo. Para terem uma ideia, coisas banais como uma galinha por ovos e o que isso representa para a mesma são abordados de uma forma divertida, mas que ao mesmo tempo nos transmite imensa informação sobre o mundo que exploramos.
No entanto não fiquem com o pensamento de que isto é tudo o que Beastars tem a oferecer, pois apesar de sim, a natureza representar um grande papel na história, os personagens são ricos e carismáticos mesmo se tirarmos esse detalhe tão peculiar. Personagens como Louis vão manter-vos colados na tela, pela personalidade orgulhosa e dedicação ao teatro, ele foi sem dúvida a figura do elenco mais interessante de acompanhar e que mais reviravoltas entrega.
Legoshi por outro lado é um amorzinho, cada momento que ele está em cena só tinha vontade de o abraçar e dizer que vai ficar tudo bem. O anime realmente soube balancear os seus desejos primitivos com a sua personalidade dócil e no fim acredito que ninguém ficara indiferente ao mesmo.
Haru por outro lado é uma personagem um pouco difícil de descrever, ela é interessante e transmite uma perspectiva cativante, mas eu não consegui gostar muito da mesma, talvez porque tudo gire a volta das pessoas com quem ela dorme e não tenhamos muitas chances de ver o seu lado mais natural, tirando quando está com o nosso protagonista. Espero que na segunda temporada a obra consiga dar espaço para ela se desenvolver também fora da parte do romance.
No fim Beastars é uma obra muito bonita e cheia de potencial, sobre um grupo de estudantes que são animais, sendo MUITO mais do que simplesmente o anime "furry" como muitos gostam de descrever.
Animação
Desde o seu anúncio que Beastars me deixou extremamente curiosa e em completo sofrimento enquanto esperava que finalmente saísse na Netflix. E o motivo? Estúdio Orange, que para quem não saiba foi o responsável pelo incrível Houseki no Kuni.
Apesar de haver um enorme estigma em relação aos animes em CGI, a verdade é que gostando ou não, é impossível negar a habilidade do estúdio de criar mundos lindos e dar vida a obras que muitos dizem impossíveis. Se com Houseki muitos temiam como dariam vida a "pedras", com Beastars o problema reside no leque de personagens antropomórficos, e se no anterior foram incríveis, agora superaram-se completamente.
Usando técnicas de captura de movimento, mais conhecidas pelo seu uso em vídeo games, os animadores/diretores filmaram a si próprios para conseguirem dar um movimento mais rico aos personagens. As gravações também foram feitas com antecedência a animação e com atores de voz com experiência em atuação, isto não só permitiu-lhes representar melhor a resposta do corpo ao diálogo, como deu liberdade aos atores para darem um toque especial aos personagens, como por exemplo através de gestos que mais tarde seriam integrados nos mesmos.
Outra curiosidade interessante é que todos os personagens são meio que derivados do Legoshi, como o estúdio relatou no Twitter, criar modelos específicos para cada personagem séria trabalhoso, felizmente o modelador Nakagawa criou um método que permitiu adaptar as feições do lobinho a maioria dos modelos.
Beastars é realmente uma obra linda, com uma direção ainda mais incrível! Os diversos ângulos são escolhidos de forma inteligente, transmitindo de forma perfeita o ar ameaçador que animais como Legoshi passam, mesmo quando não fazem nada demais. O toque de como o nosso protagonista capta o cheiro de Haru é extremamente elegante e o aspecto que assimila quando chega a mente é genial.
O anime também não é desprivado de alguns momentos em 2D, algo que achei engraçado como uma enorme consumidora desse tipo de animação, afinal fãs como eu estão habituados a ver o CGI usado para aliviar a produção em áreas mais complexas. Aqui vemos completamente o contrário, sendo usado 2D para mostrar animais que mal aparecem de forma a não gastar tempo em modelos desnecessários e alguns detalhes específicos do elenco principal, entre outras coisas.
Em cada canto da produção vemos o carinho que a equipa tem pela sua produção, algo que não é nada surpreendente quando vemos que o estúdio já tinha interesse em adaptar o mangá, mesmo antes de ele ter tido o seu grande impacto. Eu sou uma grande fã do estúdio e estou ansiosa para ver a futura segunda temporada, assim como qualquer outro anime que eles possam vir a fazer!
Recomendo muito darem uma olhada no Twitter oficial do estúdio, onde são reveladas imensas curiosidades sobre a produção ou mesmo o Twitter do produtor Yoshihiro Watanabe, que além de ser uma pessoa extremamente simpática, também compartilha algumas curiosidades de vez em quando.
Como já tem sido costume da minha pessoa deixo os links de alguns artigos e entrevistas sobre a obra:
Entrevista entre Paru Itagaki (autora) e EXILE SAKAI com um grande foco na parte teatral da obra.
Entrevista com o estúdio Orange.
Entrevista com Satoru Kosaki, o compositor do anime.
Normalmente está é a parte em que infelizmente não tenho muito o que falar devido a minha falta de conhecimento, todavia desta vez abriu-se um caminho para vos falar de um estúdio peculiar. Por isso peço que aguentem comigo mais uns parágrafos, enquanto roubo o espacinho da música para mais uma vez falar de animação.
Se assistiram Beastars ou viram a abertura circular pelas redes sociais, certeza que notaram a incrível animação de stop-motion e caso tenham curiosidade, os responsáveis por tal feito são o estúdio CYCLONE GRAPHICS, nunca ouviram falar? Eu também não, pelo menos até ver está abertura incrível.
CYCLONE GRAPHICS foi fundado por Michiya Kato aos 30, com o objectivo de criar um espaço onde pudesse combinar técnicas de animação tradicionais com as ferramentas digitais que começaram a aparecer na altura, mantendo o seu trabalho sempre inovador.
Eles já trabalharam em propriedades extremamente populares como Kizumonogatari, o criador Masaaki Yuasa, as empresas Bandai e Sonic Music, e por fim um dos nomes mais marcante no cinema japonês, Satoshi Kon onde Kato até serviu como diretor de CGI e fotografia em Paprika. Como podem ver, apesar de não serem famosos entre o público, claramente tiveram um impacto entre os membros da indústria.
Ligando agora estes incríveis criadores a obra em questão, fiquem sabendo que os produtores do estúdio Orange apresentaram a ideia ao Kato com base na sua experiência em obras CGI, sem nunca imaginar que o mesmo iria sugerir uma abordagem de stop-motion. Recebendo o "ok", CYCLONE GRAPHICS juntou-se ao Dwarf Studios, um estúdio especializado em stop-motion, para nos entregar a obra prima que é a abertura.
É simplesmente fenomenal a forma como conseguiram captar perfeitamente a obra naquele minuto e meio, tendo como highlight a lindíssima dança entre o nosso casal principal e o momento em que vemos a saliva do Legoshi a cair, que por curiosidade é completamente feita a mão, simplesmente incrível!
Recomendo muito lerem o artigo do kVin no Sakugablog onde ele se aprofunda nas origens do estúdio CYCLONE GRAPHICS e por último, a entrevista que o ANN fez com Dwarf Studios que nos revela imensas curiosidades sobre a criação.
Abertura:
"Wild Side" - ALI
Encerramentos:
"Le zoo" - YURiKA
"Nemuru Honnou" - YURiKA
"Marble" - YURiKA
"Tsuki ni Ukabu Monogatari" - YURiKA
Vale a pena ver?
Sim! Beastars foi uma experiência bastante gratificante e apesar de entender como a ideia pode parecer um pouco estranha (eu tive muitos momentos wtf), a verdade é que é uma história linda e muitíssimo bem trabalhada, quer seja pelo estúdio como pela criadora original.
Amei a resenha. Beastars, foi uma grande surpresa de 2019. Não sabia que havia sido do mesmo estudio de Houseki no Kuni, e fui procurar para assistir, e não me decepcionei, ambos são ótimos exemplos de que é possível fazer ótimos animes em CG. Ah, eu havia lido em algum lugar uma matéria falando foi preciso desenvolver uma simulação nova apenas a cena que a haru acaricia o legoshi. E parabens pela pesquisa, foi o primeiro lugar que soube esses detalhes sobre a produção do stop motion da abertura, vou ler mais nos links. Parabens
ResponderExcluirSou muito grata a Katie por ter escrito essa resenha! Ela sempre pesquisa a fundo sobre os animadores e sobre o estúdio!
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