01/10/2022

LIVRO - Capítulo 10 - O Retorno


Leia no Wattpad: Os Últimos Humanos

CAPÍTULO 10 - O RETORNO


A volta para a Cidade foi muito mais rápida, segura e tranquila do que toda a jornada até agora. Kuruba era um excelente guia, sempre indo pelo caminho mais fácil, além de fornecer proteção, impedindo que outros espíritos se aproximassem.

O grupo caminhou em silêncio a maior parte do tempo. Às vezes sentindo que seu plano era simples demais e muita coisa poderia dar errado. Em outros momentos tinham a certeza de que o que estavam fazendo era estúpido e todos acabariam mortos. Ninguém parecia muito confiante. Havia apenas uma certeza: alguma coisa devia ser feita.

Ao longo da viagem, Kaolin tentava se acostumar à vida sem sua mão direita. Graças aos anos de treinamento para ser uma Exploradora, a jovem estava habituada a usar armas com ambas as mãos, então não tinha tanta dificuldade assim em usar apenas a mão esquerda, mesmo sendo destra. Ela conseguia se virar bem durante as refeições e não parecia sentir mais dor alguma, o que deixou todos muito mais tranquilos.

Lin pulava nas árvores, aproveitando bem o mundo exterior. O macaco passou a maior parte do tempo com as plantas, se juntando ao grupo apenas na hora de dormir. Ele parecia entender que estavam voltando para a Cidadela, resolvendo usufruir ao máximo da natureza.

Conversando com Endi, Kuruba estabeleceu que os levaria até aquela região em que o garoto cresceu e conhecia bem, os deixando seguir sozinhos a partir de lá. Endi garantiu saber chegar até a Cidadela sozinho. Era claro para todos que o espírito queria ficar o mais longe possível do local e preferiria evitar se aproximar demais.

A confiança que Endi tinha em guiar o grupo pela região em que passou toda a sua vida era a única certeza que ele tinha. Provavelmente o garoto era o mais desesperado do grupo, fazendo de tudo para suprir o crescente pânico. Ele não tinha mais ninguém no mundo exterior, seus únicos amigos estavam ali com ele e as únicas pessoas que conhecia se encontravam na Cidadela. Endi queria ajudar, genuinamente queria o bom de todos, mas estava completamente inseguro com o plano.

Amana sentia isso. Ela conseguia ver o medo nos olhos dele. Acreditava que todos ali sentiam o mesmo, mas por terem uma relação muito mais forte com a Cidadela e seus moradores, conseguiam controlar melhor do que Endi todo aquele receio com o que viria a seguir.

A caçula se segurava para não ficar perto demais da irmã. Ela entendia bem que Kaolin gostava de ser independente e que era importante para ela se sentir forte. Amana gostaria de ajudar mais, apoiar mais, fazer mais pela irmã, mas achou melhor respeitar o espaço da jovem, a deixando livre para fazer tudo sozinha.

Tokku se sentia da mesma forma. Sempre de olho em Kaolin, garantindo que ela estava bem, mas sem se intrometer. Era difícil para eles se segurarem, pois conheciam ela muito bem e sabiam que mesmo quando a garota precisava de ajuda, tentava fazer tudo sozinha.

Ao mesmo tempo, o Capitão pensava com todas as forças, fazendo de tudo para bolar um plano melhor. Lembrava e relembrava de todos os detalhes, todas as informações adquiridas até ali. Do diário de Taîyra, dos livros de Amana, da história de Syreni. Se esforçava procurando algo que deixaram passar, algo que poderia salvar a todos do que estava por vir.

Infelizmente, o rapaz não tinha a menor ideia de como encontrar Rhombeatus. Para começo de conversa, não entendia como viveram juntos com o espírito sem nunca notarem sua presença ou verem algo suspeito. Pelo jeito teriam que ir com a ideia absurda de pedir ajuda aos anciãos e esperar pelo melhor.

— Chegamos. — Kuruba disse. — É aqui que nos separamos.

— Reconheço o local. Sei onde estamos. — Confirmou Endi.

— Vocês ainda tem tempo de reconsiderar. — O espírito falou sorrindo sem graça.

— E ir para onde? — Kaolin perguntou. — Viver sabendo que deixamos todos para morrer? Não, obrigada.

— Foi apenas uma sugestão. — Kuruba respondeu baixinho.

Lin se aproximou do espírito, querendo se despedir. Kuruba o pegou em seus braços e abraçou o macaco. Colocando Lin novamente no chão, olhou para o grupo. Ele achava os humanos exaustivos demais, apesar de gostar de sua companhia casualmente. Aqueles eram os primeiros humanos que viu depois de tantos anos... Pensou que talvez devesse ter tido mais paciência com eles.

— Aqui, pegue. — Kuruba se dirigiu à Tokku.

O espírito arrancou alguns fios de seus cabelos, entregando-os ao rapaz.

— Se jogá-los no fogo, eu sentirei. — Explicou Kuruba. — Se conseguirem sair de lá vivos, me chamem. Posso guiar vocês aqui fora.

Retirando um lenço do bolso da calça, Tokku embrulhou os fios e o guardou em seu bolso novamente.

— Obrigada. — Kaolin agradeceu a oferta.

Acenando com a cabeça, se despedindo de todos, Kuruba sumiu na mata.

— "Se conseguirem sair de lá vivos". — Endi disse começando a caminhar.

— Não seja assim. Ele não vê muitos humanos, por isso não sabe como lidar ou o que falar. — Kaolin o defendeu. — Kuruba ajudou como podia.

— Ele e os outros espíritos podiam tentar ajudar pelo menos. — Amana parecia um pouco decepcionada.

— Aparentemente eles já tentaram tudo o que podiam. — Tokku falou. — Não sabemos pelo que eles passaram e não podemos julgar sua decisão.

Todos se calaram.

Voltando a caminhar, Endi guiava o grupo rumo a Cidadela. Todos estavam nervosos, ansiosos e preocupados, então automaticamente quando tentavam conversar, acabavam discutindo. O melhor era apenas ficar em silêncio.

Para o desespero do grupo, chegaram lá em um piscar de olhos.

— O Sol já vai se pôr. Não podemos demorar muito. — Tokku se aproximava da entrada. — Temos que ir.

Aparentemente não haviam guardas no exterior.

— Como vamos entrar? — Amana olhou para o Capitão.

— Assim. — Kaolin respondeu.

Tirando um de seus machados da mochila do amigo, ela o fincou com força quebrando a fechadura.

— Por que você sempre faz isso? — Endi sussurrou assustado.

Sem responder, Kaolin removeu seu machado, liberando a passagem agora aberta, apenas fazendo um gesto com a cabeça para que a seguissem.

Amana e Tokku se olharam, como se já esperassem aquilo. Em seguida entraram no túnel, juntamente com Lin. Endi, que ficou por último, olhou para o céu, sentindo que aquela era a última vez que veria o mundo exterior. Com agonia, fechou a entrada, sendo rodeado pela escuridão.

Caminhando silenciosamente, chegaram ao portão que separava o grande túnel do primeiro andar.

— Com licença. — Kaolin falou baixinho.

Os dois guardas que estavam no local pularam com o susto.

— Poderiam nos levar até a Sala dos Anciãos? — Tokku pediu.

Extremamente surpresos, os guardas ficaram sem reação. Nunca imaginaram que os fugitivos voltariam vivos depois de tantos dias na superfície.

— Eles não sabem o que fazer. — Kaolin cochichou para Tokku.

— Ninguém é treinado para receber visitantes aqui. — Ele sussurrou de volta.

— Viemos nos render. — Amana disse alto, levantando as mãos.

Percebendo que não havia hostilidade no grupo, abriram o portão.

Acompanhados pelos guardas, os jovens foram escoltados até a Sala dos Anciãos. Já era noite e não havia quase ninguém nos andares superiores, a grande maioria estava em suas casas.

Mais guardas foram se juntando, conforme os encontravam pelo caminho.

— Você, vá chamar o General. — Um dos guardas ordenou.

— Ele deve estar dormindo. — O novato reclamou.

— Então o acorde! Isso é uma emergência. — O guarda falou furioso.

Enquanto isso, outros dois guardas foram selecionados para chamar os anciãos. Tudo estava muito confuso e todos pareciam desajeitados, mas rapidamente chegaram ao local.

— Esperem aqui. — O guarda disse ao grupo, os trancando da grande sala.

— Isso está tão estranho. — Amana fez uma careta.

— Os idiotas nem nos desarmaram. — Kaolin falou indignada. — Quem treinou esses imbecis?

— E o que fazemos agora? — Endi perguntou assustado.

— Explicaremos tudo aos anciãos. — Tokku o relembrou do plano.

— Isso não será necessário. — Disse uma voz rouca.

Marã entrou na sala, fechando as portas e dizendo aos guardas que não queria ser interrompida.

— Precisamos de ajuda! — Kaolin começou rapidamente.

— Cale-se. — Gritou a anciã.

— Marã, nos escute. — Suplicou Tokku.

— Vocês quase arruinaram tudo. — Ela os olhava com desprezo.

— Escute! O Rhombeat... — Amana se desesperou.

— Sei bem quem ele é. — Marã interrompeu a garota.

— O que está acontecendo aqui? — Berrou Endi.

— Crianças insolentes. — A anciã sussurrou.

Caminhando até a mesa, ignorando as perguntas e gritos dos jovens, Marã afastou uma das cadeiras e se sentou.

— Não pensei que vocês seriam tão estúpidas quanto sua mãe. — A velha olhava para as irmãs. — Kaolin talvez pudesse agir de um modo burro, mas você Amana, espera mais de você.

— Qual o seu problema? — Kaolin gritava. — Estamos tentando te alertar!

— Vocês não sabem de nada. — Marã a olhou com ódio.

— Sabemos sim! — Insistiu Kaolin.

— Vocês sabem sobre como sua mãe descobriu a verdade e foi morta por isso? — A anciã deu um soco na mesa. — Tentei de tudo para ajudá-la, mas ela foi estúpida demais. Envolveu outros, espalhou sobre o que havia descoberto. Por isso os pais desse aí fugiram.

Sinalizando com a cabeça, ela apontava para Endi.

— Sua mãe não resistiu e alertou os vizinhos. — Marã prosseguiu. — Mas diferente deles que conseguiram fugir com o filho, ela acabou morta, o marido morto e as filhas órfãs.

— Nossos pais eram vizinhos? — Endi interrompeu surpreso.

— Outra coisa que você não sabe, minha cara garota, — A anciã olhava para Kaolin. — é que esse macaco fedorento entrou aqui quando os pais do menino fugiram e deixaram a Cidadela aberta. Tento matar esse maldito desde aquele dia, mas o desgraçado sempre consegue fugir.

Lin estava no ombro de Kaolin, sentindo o olhar ameaçador, se encolheu todo.

— Como se não bastasse todo o desaforo, sua mãe ousou dar o amuleto da família para eles! — Agora Marã batendo na mesa com ambas as mãos.

Endi colocou a mão no peito, segurando o amuleto que tinha por baixo das roupas.

— Esse mesmo! — A velha apontou freneticamente para ele. — O amuleto da nossa família, feito para nossa proteção.

— Como assim nossa família? Ele era de minha mãe! — Kaolin berrou confusa.

— Minha cara menina, vocês são minhas descendentes. — Marã revelou.

— Como assim? — Amana gritou surpresa.

— O que? — Kaolin gritou mais alto.

Endi chorava assustado em um canto.

— O amuleto era para nos proteger, caso a víbora resolvesse nos trair. — Continuou a anciã. — Devia ficar com nossa família.

— Como você pode ser da nossa família? — Kaolin exigia uma explicação.

Tokku tentava entender aquelas informações, escutando com atenção, procurando respostas. Ao mesmo tempo em que por instinto, tinha a mão em sua espada, pronto para proteger as amigas.

— Os humanos vagaram por dezenove anos após o retorno dos espíritos. — Marã continuou. — Dezenove longos anos de sofrimento até fundarem a Cidadela. O problema é que o espírito que criou nosso novo lar, quase nos levou à extinção. Apenas um ano aqui em baixo e já estávamos à beira de um colapso. Eu descobri a verdade sobre ele. Então fizemos um pacto, onde ele pouparia meus descendentes e estenderia minha vida em troca de ajuda com a nova e reformada Cidadela.

— Você ajudou ele? — Kaolin tremia.

— Isso é realmente verdade? — Tokku ameaçou desembainhar a espada.

— Isso aqui era o caos antes de me deixarem no comando. — Marã ignorava os jovens. — Humanos morriam o tempo todo, tudo era uma grande bagunça, o desgraçado nos devorava quando bem entendesse. Por isso ele aceitou meu acordo. Eu tinha o plano perfeito.

— Você é louca! — Kaolin a olhava desesperada.

Amana não conseguia se mexer, apenas escutava tudo imóvel.

— Eu surgi como a salvadora. — A anciã falava sem se importar. — Estabeleci então o inteligente esquema de nossa sociedade. Poucos seriam sacrificados periodicamente, mantendo a besta satisfeita. Eu garanti a sobrevivência humana. Temos uma vida confortável, todos estão felizes aqui. Nenhum humano teria sobrevivido sem minha astúcia.

— Tudo isso foi ideia sua? — Tokku se revoltou.

— Assim mantemos a víbora sob nosso controle. — Marã sorria. — Com a procriação humana, garantimos nossa sobrevivência, pois nunca faltaram humanos para serem sacrificados.

— Isso é repugnante. — Kaolin apertava tanto seu machado que o cabo parecia querer quebrar.

— Viemos aqui te pedir ajuda para libertar todo mundo, e na verdade é você quem os prende aqui. — Tokku gritou com fúria.

— Não sejam assim. — Marã os encarou novamente. — Se saíram na superfície e voltaram com vida, provavelmente chegaram até o Sanozama. Talvez na esperança de encontrar sua mãe. Provavelmente até selaram alguns espíritos. Estou certa? Caíram direitinho no plano dele.

Ninguém mais sabia o que dizer. A anciã claramente os estava ignorando.

— O desgraçado descreveu todos os espíritos nos livros, até colocou informações de como usar os cristais. — Marã se levantou e andou lentamente até Endi. — Ele queria que alguém fosse caçá-los. Queria usar os Exploradores para se livrar dos espíritos inimigos. Só não contava com a grande covardia humana. Tentei alertá-lo que nossa espécie servia como alimento, não como instrumento de vingança. Vocês são os primeiros a terem essa coragem.

Amana se sentou no chão. Todas as suas esperanças haviam sumido completamente.

— Vocês achavam mesmo que sabiam de alguma coisa? — Marã riu. — Claramente estavam enganados.

Agora próxima à Endi, se abaixou e colocou a mão no pescoço dele.

— Se afaste dele! — Tokku apontou a espada para ela.

Ignorando a ameaça, a anciã puxou o cordão com o amuleto. Endi não moveu um músculo.

— Isso é a única coisa que separa nossa família dos demais. — Ela explicou colocando o amuleto em si. — Essa é nossa proteção. Se sua mãe foi tola o suficiente para jogá-lo fora...

— Minha mãe não era tola! — Kaolin gritou com força. — Se tudo o que está dizendo for verdade, ela usou o amuleto para proteger seus amigos.

— Ridículo. — Marã debochou.

— Por que está nos contando tudo isso? — Amana falou de repente.

Kaolin a olhou preocupada.

— Não faz sentido. — Amana continuou, quase sussurrando. — Por que revelaria todos esses detalhes?

Marã a encarou em silêncio.

— Ele está vindo para cá. — Concluiu a caçula.

— Tokku! Temos que sair daqui! — Kaolin correu em direção à Endi.

— Rhombeatus está vindo. — Sem piscar, Amana olhava para a anciã.

— Ela quer nos manter aqui até ele chegar! Ele vai nos matar. — Kaolin tentava levantar o amigo.

Tokku correu até ela, levantando Endi a força. O garoto estava em pânico, respirando ofegante. Sem pensar muito, Kaolin deu um tapa no rosto de Endi. O impacto fez com que ele despertasse e voltasse à realidade.

— Não vamos conseguir sair. — Endi choramingou.

Agora Kaolin foi até a irmã, puxando-a pelo braço. Lin pulou no ombro da caçula. Tokku tentava abrir as grandes portas. O grupo todo estava reunido da entrada na sala.

— É tarde demais. — Marã tinha um sorriso assustador em seu rosto.

Ouviram gritos do lado de fora da sala. Havia acontecido algo aos guardas.

— A víbora está aqui. — A anciã se sentou novamente.

Sons grotescos vinham do túnel, fazendo com que o grupo se afastasse das portas. Algo horrível estava acontecendo e não queriam imaginar o que era responsável por aquilo.

Uma das portas se abriu lentamente, mostrando uma figura parada no túnel. Era um senhor muito velho, provavelmente tão velho quanto Marã. Ele começou a dar pequenos passos, entrando na grande sala. No chão, uma poça de sangue escorria vinda do corredor, crescendo cada vez mais, até alcançar os pés do homem.

A misteriosa figura parou diante do grupo. Havia sangue espalhado por toda a entrada. Apertando os olhos, tentando enxergar na escuridão do cômodo mal iluminado, Kaolin percebeu algo.

— Você... — Ela sussurrou.

Aquele era o mesmo ancião que estava nas sombras, no fundo da sala, quando ela esteve ali pela primeira vez. Era o enigmático ancião que parecia controlar todos os outros. Ele viveu escondido entre eles todo esse tempo.

— Marã. — O velho falou imponente.

— Assim que se livrar deles, tudo estará resolvido. — Ela disse do fundo da sala.

— Ele é... — Amana não conseguiu concluir a fala.

— Finalmente resolvemos o problema dos que haviam fugido anos atrás. — Marã exibia o amuleto em seu pescoço. — Você cuidou dos pais e agora fará o mesmo com o filho deles.

O misterioso homem ouvia em silêncio.

— Agora não teremos mais pontas soltas. Tudo voltará ao normal. — Ela finalizou sorrindo.

— Se somos mesmo da sua família, como pode deixar ele nos matar? — Kaolin olhou brava para a anciã.

— Minha cara, — Marã passou a mão do amuleto. — não vou arriscar minha vida, meu poder, tudo que conquistei, todos esses anos de trabalho duro para chegar até aqui.

Havia sangue na mão de Kaolin, de tão forte que a garota apertava seu machado. Seus olhos se encheram de lágrimas, não de tristeza, mas de ódio. Ela não entendia aquela senhora. Não entendia essa situação. Achava tudo aquilo desprezível e não conseguia pensar em como sair dali com vida, em como salvar a irmã e os amigos.

— Estou farto de você. — O homem disse repentinamente.

Todos o olharam.

— Você vem falhando demais nestes últimos tempos. — Ele continuou.

— Tudo já foi resolvido. — Marã falou tensa.

— Não preciso mais de você. — O velho tinha uma expressão estranha.

— Errado. — Marã bateu na mesa com sua mão fechada. — Você não conseguiria fazer isso sem mim.

— Já tenho tudo que preciso. Já aprendi o necessário para fazer esse lugar funcionar. — O rosto dele parecia estar se deformando.

— Vamos finalizar esse problema. Se livre deles. — Marã exigiu.

A sala era muito escura para se ver com clareza, mas o grupo ficou enojado com a visão à sua frente. O corpo do ancião se deformou todo, como se seus ossos estivessem sendo quebrados e sua pele parecia estar sendo rasgada. Antes que pudessem falar ou fazer algo, o pequeno corpo idoso já havia se transformado em uma gigantesca serpente.

Rhombeatus se mostrava em sua verdadeira forma. Os olhos da víbora tinham um brilho intenso, ardendo como fogo. Ouvir as histórias não os prepararam para aquela visão. Ele era diferente dos seres que encontraram no mundo exterior. Sua aura maligna provavelmente podia ser sentida por toda a Cidadela naquele momento. O enorme corpo do espírito tampou toda a entrada, se estendendo pelo túnel, tornando impossível de ver seu real comprimento, deixando a sala ainda mais escura.

A serpente olhava para o grupo dos jovens, que estavam colados uns nos outros, com repulsa, como se quisesse se afastar deles.

— Acabe logo com isso. — Ordenou Marã.

Kaolin a olhou, com um misto de emoções.

— Se preparem. — Amana cochichou entre os dentes.

Tokku viu a expressão no rosto da amiga e entendeu que ela tinha um plano.

— Corram. — Amana sussurrou.

Rhombeatus saltou para o fundo da sala, passando por cima da mesa, que se quebrou com o peso de seu corpo. A víbora preencheu todo o espaço da grande sala. Tokku puxou Endi pela mão, correndo em direção a entrada, que agora estava livre. Amana, segurando Lin em seus braços, correu com eles.

Kaolin ficou imóvel, olhando horrorizada. A cena toda aconteceu muito rápido. Marã soltou um grito hediondo, apertando o amuleto em seu pescoço com ambas as mãos. A serpente destroçou o corpo da anciã em instantes.

De repente, Amana puxou Kaolin para fora daquele lugar. Tentando ignorar a cena, mas sem sucesso, passaram pelos corpos mutilados dos guardas. Quando Kaolin percebeu, estava correndo ao lado dos amigos. Havia muito sangue por todo o túnel e partes de corpos espalhadas pelo chão. Tokku sentiu vontade de vomitar ao ver a cabeça do General jogada em um canto. Aparentemente não havia guardas sobreviventes. Disparando a toda velocidade, agora se encontravam no fim do corredor, sem saber para onde ir.

— Achei que o amuleto mantinha ele longe! — Kaolin sentia seu coração pular em seu peito.

— Nós o trocamos. — Amana falou ofegante.

Recuperando o fôlego, a garota tirou um pequeno frasco da mochila de Endi, entregando-o ao garoto.

— O que você fez? — Tokku estava perplexo.

— Quando estávamos na gruta, Kuruba sugeriu que escondêssemos o amuleto verdadeiro. — Explicou Amana.

— Ele disse que poderia ser útil. — Endi segurava o frasco com ambas as mãos.

— Por isso ele não conseguiu se aproximar de nós! — Kaolin entendeu.

— O que faremos agora? — Endi olhou assustado para o túnel.

— Temos que tentar selá-lo. — Tokku respondeu.

Pegando os cristais em sua mochila, o Capitão os distribuiu para o grupo.

— Precisamos fazer com que ele os coma. — O rapaz olhou para Kaolin. — Sem arriscar nossas vidas.

— Isso é impossível! — Endi berrou.

— Você viu o tamanho daquela coisa? — Kaolin apontou em direção a sala.

— O corpo dele ocupou todo aquele espaço! — Endi continuou.

— É isso! — Amana exclamou.

— Deve ser o maior espírito de todos! — Gritou Endi.

— Precisamos de algo proporcional ao tamanho dele. — Amana olhou para o centro da Cidadela.

Erguendo suas cabeças, olhando para cima, na região central viram o grande cristal brilhando. Agora um lampejo de esperança surgiu no olhar do grupo. Enfim, tinham um plano no qual se sentiam confiantes.

— Só precisamos fazer com que ele o morda. — Amana pensou. — A pressão e força da mordida vai partir o cristal.

— A gravidade fará o resto, fazendo com que desça por sua garganta. — Tokku entendeu onde a garota queria chegar.

— Mas levá-lo lá para cima coloca todos da Cidadela em perigo. — Endi tremia.

— É nossa única escolha! — Kaolin parecia confiante.

Antes que pudessem combinar os detalhes, ouviram um barulho rastejante se aproximando pelo túnel. Rhombeatus não podia deixar com que fugissem. Ainda mais se quisesse continuar com o plano de Marã, de continuar com o sistema da Cidadela, mantendo os humanos para si.

Os jovens correram para os lados, se separando. Tokku, Amana e Lin ficaram à direita. Kaolin e Endi, à esquerda. Rhombeatus destruiu a entrada do túnel por conta da velocidade em que vinha. Tornando impossível para o grupo se reunir naquele andar.

— Vão lá para cima! — Tokku berrou do outro lado.

Todos começaram a correr, apenas se esquecendo de um detalhe.

— Kaolin... — Endi tinha lágrimas nos olhos.

Enquanto corriam, ele mostrou o frasco em suas mãos para ela. Kaolin arregalou os olhos em desespero. O espírito não viria atrás deles, pois tinham a proteção da água da gruta. Olhando para trás, viu Rhombeatus seguindo na direção oposta.

— Precisamos ajudá-los! — A garota berrou.

Acelerando a uma velocidade quase sobre-humana, Kaolin começou a deixar Endi para trás. Ela sentia um desespero tão grande que era impossível colocar em palavras. Todos corriam perigo na atual situação, mas naquele momento Tokku e Amana estavam mais vulneráveis do que a Cidadela inteira.

— Kaolin! — Endi chamou.

Ela parou, finalmente percebendo o quanto havia se afastado.

— Leve-o! — Ele disse se aproximando.

O garoto corria com o braço esticado, tentando lhe entregar o frasco.

— Vamos ficar juntos! — Kaolin recusou.

— Você mesma disse, precisamos ajudá-los. — Endi insistiu para que ela pegasse o objeto. — Você é muito mais rápida! Vá! Eu te alcanço!

Dividida entre manter o amigo sob a proteção do amuleto e correr para salvar a irmã, fechando os olhos, Kaolin fincou seu machado na parede. Pegou o frasco, o guardou rapidamente no bolso de sua calça, pegou novamente sua arma. Acenando com a cabeça em agradecimento, olhando nos olhos do amigo, ela se virou e correu. Em instantes já havia sumido do campo de visão de Endi.

Endi ficou parado por alguns segundos. Lágrimas escorriam por seu rosto. Ele era um jovem atlético, com certeza podia ser mais rápido do que aquilo, mas o medo havia tomado conta de seu corpo e sua mente. Se sentia culpado e não queria atrasar Kaolin. Recuperando as forças e voltando a correr, foi em direção ao grande cristal.

Enquanto disparava pelos corredores da Cidadela, Kaolin se sentia péssima por deixar o amigo para trás. Mas uma força que não podia explicar se apossou dela, fazendo com que fosse mais rápido ainda. A vida de todos estava em jogo, não apenas a de Amana, de Tokku, Lin ou Endi. Os últimos humanos sobreviventes do massacre dos espíritos estavam reunidos ali. A sobrevivência da espécie dependia daquele momento.

Enquanto isso, do outro lado, Lin segurava com força no ombro de Amana. Ela e Tokku corriam da gigantesca serpente, entrando em pequenos túneis, subindo os andares, se esquivando dos ataques. A Sala dos Anciãos ficava no terceiro andar, e como já era tarde da noite, todos estavam em suas moradias dormindo. Os únicos nos andares superiores deveriam ser os guardas, que agora estavam mortos.

— Você precisa se esconder! — Tokku gritou enquanto corria.

— Não vou te deixar sozinho! — Amana retrucou.

Entrando em uma pequena sala, de um estreito corredor, eles ficaram em silêncio. Podiam escutar o enorme corpo da serpente rastejando com fúria, os procurando.

— Vou usar o equipamento que está fixado no teto. — Tokku explicou. — O que usam para escavar cristais. Vou levá-lo próximo ao alvo.

— Me deixe ajudar! — A garota pediu.

— Você só vai atrapalhar! — Ele sussurrou como se quisesse gritar.

— Está dizendo isso para me proteger! — Amana sentia lágrimas surgindo.

— Espere até que ele me siga e se afaste daqui. Então procure Kaolin. — Tokku disse olhando fundo dos olhos da garota.

Mais do que uma amiga, Amana era uma irmã para ele. Era sua família. Kaolin não era a única com desejo de protegê-la. Se virando, Tokku correu, fazendo com que o espírito o seguisse. A garota chorou em silêncio, no pequeno cômodo escuro, sentindo que nunca mais veria o rapaz.

Rhombeatus parecia estar possuído pela vontade de devorá-los, se esquecendo completamente de onde estava. O espírito destruía tudo em seu caminho. Todo o barulho e desmoronamento dos andares superiores começou a acordar alguns moradores do sexto andar. Confusos, tentavam entender o que estava acontecendo.

Kaolin enfim havia chegado no primeiro andar, procurando angustiada pelo grupo. Gritando no meio das plantações, ela chamava pelo amigo e pela irmã. Escutando algo que se parecia com uma explosão, viu algumas plantas pegando fogo. Em meio a fumaça, Tokku corria desesperado. Ela foi em sua direção, parando após alguns passos, vendo Rhombeatus surgir atrás do amigo.

— Tokku! — Kaolin gritou com todas as forças.

A víbora atacou o rapaz, o jogando nas chamas. O Capitão rolou para fora do fogo, tentando se salvar. Kaolin tacou seu machado, que voou pelo campo, batendo na cabeça do espírito, mas sem feri-lo. Por uma pequena fração de segundos Tokku não estava morto. Ela conseguiu chegar a tempo, ajudando o jovem a apagar o fogo em suas roupas. Agora que Kaolin estava ao seu lado, a serpente parecia impedida de se aproximar.

— Estou com o amuleto. — Kaolin falou baixinho.

Quando partes das roupas de Tokku pegaram fogo, os fios de cabelo de Kuruba acabaram queimados. No meio da mata, longe dali, ele sentiu ser chamado. Era como se pudesse ver a situação na qual os jovens se encontravam. Então Kuruba disparou a toda velocidade.

Endi havia chegado nas plantações, dando de cara com Amana, que também se encontrava no primeiro andar.

— Onde está Kaolin? — Ela o perguntou.

— Foi te procurar! — Endi exclamou. — Cadê o Tokku?

— Ali! — Amana apontou para longe.

O andar estava muito iluminado, por conta do fogo que se espalhava pelas plantações. Apesar de distante, era possível ver o gigantesco corpo de Rhombeatus.

— Por que ele não os ataca? — Amana estranhou a cena.

O espírito estava parado, encarando Tokku e Kaolin.

— Ela está com a proteção! — Endi exclamou.

— O que fazemos agora? — Amana tentava pensar.

— Se nos aproximarmos podemos piorar a situação. — Ele respondeu. — Os dois estão protegidos.

— Temos que atraí-lo para o cristal. — A garota olhou para cima.

A situação havia se escalado de uma forma que não imaginaram. Para piorar, os moradores do sexto andar, vendo o fogo crescente, começaram a acordar mais pessoas para ajudar a acabar com o incêndio.

Kuruba rapidamente havia chegado. Não na Cidadela, mas sim na gruta, à procura de Syreni.

— Precisamos ajudá-los! — Ele implorou.

Ela estava sentada na grande pedra, de costas para ele.

— Você sabe que eles não têm a menor chance. — Kuruba insistiu.

Se virando, Syreni tinha o olhar repleto de dor.

— É nossa chance de acabar com isso, de consertar nossos erros. — Ele parecia desesperado. — Devíamos ter feito isso antes.

— Os humanos se colocaram nessa situação. — Syreni fechou os olhos. — Nós tentamos ajudar, demos muitas chances.

— Sei que eles são burros, mas não merecem viver à mercê dele. — Kuruba tinha desprezo em sua voz. — Ele matou um de nós.

Syreni parecia relutante.

— Agora é diferente! Eles vieram até nós! Eles procuraram nossa ajuda! — Suplicou Kuruba.

— Então só nos resta uma coisa a fazer. — Syreni o olhou nos olhos.

Naquele instante, algo sinistro aconteceu na Cidadela. Vários moradores chegaram ao primeiro andar, carregando grandes potes com água. Todos ficaram imóveis com a visão de Rhombeatus. Imaginaram que o espírito invadiu o local, causando o incêndio. Cegado pela fome e tomado pela fúria, a serpente foi em direção aos moradores.

Para o desespero do grupo, que olhava à distância, a víbora começou a atacar os humanos. Gritos tomaram conta da plantação que ardia em chamas. Tokku gritou de ódio, ferido demais para se levantar.

— Temos que ajudar! — Endi se revoltou.

O garoto enfim entendia o sentimento de querer proteger aquele povo. Reunindo toda a coragem que não teve durante a jornada, correu em direção ao ataque.

— O que você vai fazer? — Amana berrou.

Sem plano algum, ela foi atrás dele.

Vendo a irmã e o amigo correndo na direção do espírito, Kaolin se enfureceu. Por um momento ela pensou em ir atrás deles, mas se lembrou do que estava na mochila de Tokku. A garota ficou com raiva e se sentiu estúpida por não ter se lembrado daquilo antes. Pegando os cristais com espíritos selados, os colocou no chão e os quebrou com seu machado. Uma luz muito forte cegou brevemente a todos os humanos ao redor, libertando os espíritos.

— O que você fez? — Tokku gritou para ela.

Ele se assustou com a ação inesperada, sem entender. Mas a ideia de Kaolin havia funcionado. Por sorte, os espíritos que haviam selado nos cristais durante sua jornada ao mundo exterior, eram antigos aliados de Rhombeatus. Ao verem a víbora, não esperaram nem um segundo para atacá-lo.

— Temos que aproveitar essa chance! — Kaolin disse entregando o amuleto para Tokku.

— Onde você vai!? — Ele berrou para ela, que já estava longe.

Enquanto Kaolin corria, Amana e Endi ajudavam os feridos a se afastarem da batalha. Os espíritos atacavam Rhombeatus com intenção de matá-lo, não se importando com nada ao redor. As chamas já haviam destruído mais da metade das plantações daquele lado do paredão. O caos reinava no primeiro andar.

Com apenas uma mão, Kaolin tentava subir no equipamento que a levaria até o teto. A garota queria chegar até o grande cristal, levando o plano adiante. Tokku gritava de dor, tentando se levantar para levar a proteção do amuleto até ela. A queda do golpe que levou quebrou sua perna e provavelmente danificou alguns órgãos, pois ele sentia uma dor insuportável.

Endi escutou os gritos do Capitão, o avistando em meio a fumaça.

— Cuide deles! Vou ajudar Tokku! — Ele disse à Amana.

A garota estava ajudando os feridos e sobreviventes a chegarem no segundo andar, para uma maior segurança, mantendo distância da batalha e do incêndio.

— Venha, vou te tirar daqui! — Endi falou chegando próximo ao amigo.

— Não! — Tokku gritou desesperado. — Vá ajudar Kaolin!

Ele bateu a mão fechada, que segurava o amuleto, no peito de Endi. O garoto pegou o frasco, encarando o amigo.

— Ela vai acabar se matando. — Tokku apontou para a direção da garota.

Olhando Kaolin a distância, Endi correu.

Kaolin, que já estava presa no equipamento, agora tentava subir, tendo dificuldade em fazê-lo com apenas uma mão.

— Você é impossível! — Endi apareceu atrás dela.

— Não temos tempo! Me ajude! — Ela apontou para o machado jogado no chão.

Ele entregou a arma a ela.

— Vou atraí-lo para lá, acredito que os outros espíritos vão tentar ajudar. Eles não parecem que estão ganhando a luta. O desgraçado é forte demais. — Kaolin falou.

Endi tentou colocar o frasco no bolso da calça da garota, que recusou.

— Proteja-se. — Ela disse. — Não posso levar comigo, se não ele não virá.

Sem tempo a perder, entendendo que ela tinha razão, Endi começou a puxar a corda, fazendo com que ela subisse. Chegando próxima do grande cristal, se posicionando na frente dele, Kaolin começou a chamar Rhombeatus. Mas no momento em que o fez, se arrependeu. A víbora havia acabado de matar os espíritos.

Terminando de ajudar os moradores, garantindo que estavam fora do alcance da batalha, Amana correu até Tokku. Juntos eles olhavam imóveis, enquanto a serpente ia em direção ao cristal. Ninguém achou que ele venceria a batalha, mas não esperavam que ele matasse os outros espíritos.

Kaolin sentiu a corda se mexer.

— Nem pense nisso! — Ela gritou para Endi.

O rapaz estava prestes a trazer ela para baixo.

— Essa é nossa única chance! — Kaolin berrou.

Agora Endi havia percebido a grande falha do plano. Para Rhombeatus engolir o cristal e ser selado, ele teria que engolir Kaolin junto. Olhando para ela, horrorizado com a intenção da garota de se sacrificar, Endi começou a puxar a corda novamente.

Rapidamente, Kaolin enfiou o cabo do machado na parte do equipamento em que as cordas se conectavam, impedindo que ele conseguisse a fazer descer.

— Não! — Tokku gritou olhando a cena.

Kaolin encarou a serpente, olhando fundo em seus olhos, sentindo todas as vidas que estavam presas ali dentro.

Próximo ao cristal, prestes a devorar a jovem, Rhombeatus produziu um som repugnante.

— Syreni! — Ele gritou com ódio.

A víbora se jogou no chão, se contorcendo. Parecia sentir muita dor. Os jovens olharam aquilo confusos.

No Sanozama, Kuruba olhava com pesar a gruta em chamas. A fumaça se erguia, parecendo alcançar a Lua. Syreni havia escondido um detalhe dos humanos, algo de extrema importância. Ao destruir o local de criação, o espírito ligado a ele desaparece. O grande problema era que ela estava selada ali, então para destruir Rhombeatus, Syreni teria que desaparecer com ele.

Olhando a gruta desmoronar, Kuruba fechou os punhos com força. Todos os espíritos ligados ao rio sentiam a perda. Sem Syreni, o Sanozama iria sumir aos poucos. Sem o grande rio, toda a região de Ednargoir, e os espíritos conectados a ela, iriam morrer. Por isso haviam evitado esse ato, por isso tentaram tantos outros modos para impedir Rhombeatus.

A verdade era que Syreni queria ter desaparecido a muito tempo atrás, mas não o tinha feito pelo bem dos outros espíritos ligados a ela e a região. Infelizmente não havia mais volta. Muitos pagariam o preço pelo ato de se livrar da víbora. E Kuruba carregaria o peso dessa decisão para sempre.

— Ele está... — Endi olhava a gigantesca serpente jogada no chão.

— Morto? — Kaolin não acreditava.

Retirando o machado que prendia a corda, Endi a ajudou a descer. Eles foram até o Capitão.

— O que aconteceu? — Tokku questionava a cena.

— Ele gritou o nome de Syreni. — Kaolin disse. — Ela deve ter feito algo.

O corpo da víbora começou a se desfazer lentamente, sumindo até desaparecer. Enquanto os outros espíritos mortos por ele continuavam ali, Rhombeatus sumiu graças ao ritual.

— Tokku! — Amana disse analisando o estado do rapaz.

— Ele vai ficar bem. — Endi olhava para a perna quebrada. — Só precisamos buscar um pouco da água tocada pelos espíritos.

Foi então que Tokku arregalou os olhos.

— Ainda temos uma garrafa! — Ele disse tentando pegar sua mochila. — Escondi uma para o caso de termos uma emergência.

— Sempre precavido. — Kaolin o ajudou.

— O que aconteceu aqui? — Uma voz rouca se aproximou.

Os anciãos haviam chegado no primeiro andar.

— Fomos avisados de um incêndio. — Outro falou.

Eles olhavam assustados os corpos mortos dos espíritos.

— Temos muito o que explicar. — Kaolin suspirou.

CURIOSIDADES


Linhagem da família

Os humanos vagaram por 19 anos após o retorno dos espíritos.

Após 19 anos de sofrimento, fundaram a Cidadela.

A Cidadela foi fundada quando Marã tinha 84 anos.

Quando ela tinha 85, ela fez o pacto com o espírito.

Cidadela tinha 1 ano de existência.

Marã teve uma filha aos 34 anos.

Quando a cidadela foi fundada, essa filha tinha 50 anos.

Quando Marã fez o pacto, essa filha tinha 63.

Filha morreu aos 65.

Essa filha teve uma filha aos 28 anos.

Quando a cidadela foi fundada, a neta de Marã tinha 22 anos.

Quando Marã fez o pacto, a neta tinha 35.

Neta morreu aos 46.

A neta teve Taîyra aos 31 anos.

Taîyra nasceu 9 anos após a fundação da Cidadela.

Quando Marã fez o pacto, Taîyra tinha 4.

Taîyra teve Kaolin com 25 anos e Amana com 30, morrendo aos 32.

Kaolin nasceu 34 anos após a fundação da Cidadela, 21 anos após o pacto.

Amana nasceu 39 anos após a fundação da Cidadela, 26 anos após o pacto.

Kaolin tinha 7 anos quando Taîyra morreu. Amana tinha 2.

Marã tem atualmente 124 anos.

A Cidadela tem 52 anos.



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